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'O DOLEIRO DO PARANÁ' - Youssef ‘aparece’ no final dos anos 90 em Londrina e Maringá

final dos anos 90 em Londrina e Maringá

Pivô hoje da Operação Lava Jato, doleiro figura em processos antigos ao lado de políticos do Paraná

A extensa ficha do doleiro Alberto Youssef em processos envolvendo agentes públicos começou no final dos anos 1990, em Londrina e Maringá. Em Londrina, o doleiro é alvo de um único processo, que tramita desde outubro de 2000 na 4ª Vara Criminal. "É inacreditável, mas é verdade. O processo está há mais de 13 anos sem solução", afirma o promotor Cláudio Esteves, um dos autores da ação em que o doleiro, ao lado de funcionários do alto escalão do extinto Banestado, é acusado por formação de quadrilha, falsificação de documento público, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Em Maringá, o doleiro responde a uma ação criminal e três por improbidade, que juntas apontam desvio de R$ 80 milhões da prefeitura – valor que corrigido chega a R$ 2 bilhões, segundo estimativa do procurador de Justiça José Aparecido Cruz, responsável pelas ações quando era promotor em Maringá. Em duas ações civis públicas por improbidade, Youssef foi condenado em junho de 2010 em primeira instância à suspensão de direitos políticos e a devolver recursos. A defesa recorreu ao Tribunal de Justiça e ainda não há decisão.

Nestes dois casos, também são réus o ex-prefeito Jairo Gianoto (1997-2000) e o ex-secretário de Fazenda Luiz Antonio Paolichi (assassinado em outubro de 2011). Um dos processos, em que o ex-deputado federal José Borba também é acusado, o MP apontou desvio de R$ 46 milhões. Borba teria sido beneficiado com R$ 92 mil desviados da Prefeitura de Maringá, dinheiro que teria sido utilizado para quitar dívida previdenciária. "Youssef agia emprestando dinheiro para aquisições de bens feitas por Gianoto e Paolichi e depois recebia em dinheiro desviado, com cheques da prefeitura", afirma Cruz, que chegou a firmar acordo de delação premiada com o doleiro.

Outra ação por improbidade ainda tramita na Comarca de Maringá. Nela o MP relatou desvio de R$ 24 milhões, envolvendo o ex-prefeito Said Felício Ferreira (1993-1996), entre outros réus. Este processo ainda não foi julgado. Também pesa contra Youssef uma denúncia que tramita na 3ª Vara Criminal, em que ele é acusado de formação de quadrilha e peculato. Também são réus nesta ação a irmã do doleiro, um primo do doleiro, uma cunhada (irmã de sua esposa) e funcionário, além de agentes públicos.

Cruz lembrou que, ao investigar o esquema de desvio de dinheiro da Prefeitura de Maringá, viajou para cidades no Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão. Ele ouvia pessoas em cujas contas eram depositados cheques da prefeitura da cidade paranaense. "Ouvi o dono de uma casa de câmbio em Manaus que havia recebido dinheiro desviado", contou. "Era um esquema muito simples de desvio de recurso e os agentes pareciam não ter medo de serem descobertos."

AMA/COMURB E BANESTADO

Enquanto o MP de Maringá tentava estancar os desvios em que Youssef era coadjuvante, em Londrina os promotores acusaram o doleiro de ser o "líder da quadrilha" que criou uma empresa de fachada, a Freitas e Dutra, para lavar dinheiro. Uma conta corrente em nome da empresa fictícia foi aberta no Banestado e pelo menos R$ 120 mil foram depositados.

O depósito era um cheque emitido pelo proprietário de uma empresa sediada em Curitiba que havia vencido licitação fraudada em Londrina. O dinheiro, segundo a ação, era proveniente de crimes de peculato, fraude em licitação e formação de quadrilha, que envolvia o ex-prefeito Antonio Belinati (1997-2000), secretários municipais e servidores no escândalo que ficou conhecido como caso Ama/Comurb – um esquema que consistia em fraudar licitações na Autarquia do Ambiente e na Companhia de Urbanização para desviar dinheiro para pagamento de campanhas eleitorais. Um dos beneficiados com dinheiro desviado foi o deputado federal licenciado André Vargas (PT). Ele foi condenado a devolver R$ 10 mil que recebeu para a campanha do PT em 1998.

Os R$ 120 mil cobrados na ação foram sacados no dia seguinte ao depósito, fracionados em quantias de R$ 15,9 mil, para não alertar o setor de fiscalização do Banco Central. O autor dos saques não foi identificado.

Youssef, que demonstra ser afeito a acordos em troca de redução de pena, não quis colaborar com as investigações em Londrina e acabou sendo preso cautelarmente em dezembro de 2000. Os promotores apuraram que ele operava pelo menos 30 contas em nome de "fantasmas" no Banestado com objetivo de lavar dinheiro e destinar parte para contas no exterior. Os inquéritos foram conduzidos pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal assumiu o caso.

Desvios por meio do extinto Banestado também renderam ao doleiro um processo que tramita na Justiça Estadual em Curitiba. O MP acusou Youssef e antigos diretores do banco de desvio de R$ 16 milhões por meio de empréstimos irregulares feitos pelo então diretor de Câmbio e Operações Internacionais do Banestado "o qual, visando beneficiar terceiros, passou a deferir os referidos empréstimos para empresas de sua preferência, de forma ilegal e com propósitos escusos, tendo como única garantia, notas promissórias com aval dos sócios das empresas rés, já com o propósito de não serem cumpridas em seus vencimentos".

Em primeiro grau, o juiz – apenas analisando documentos – considerou a ação procedente e condenou os réus. Porém, o TJ anulou a sentença em setembro do ano passado por entender que é necessário a chamada instrução, ouvindo testemunhas e acusados.

folha de londrina
Loriane Comeli
Reportagem Local
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