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Oficinas foram usadas para propostas forjadas em licitação, diz MP-PR

Empresas eram para dar aparência de legalidade a contrato, segundo o MP.
Justiça aceitou a denúncia contra sete acusados de participar do esquema.

Do G1 PR, com informações da RPC Londrina
O Ministério Público do Paraná (MP-PR) aponta que duas oficinas de Londrina, no norte do estado, foram usadas para propostas forjadas em um esquema de fraude em uma licitação do Departamento de Transportes (Deto) do Governo do Estado.
Segundo o MP-PR, as oficinas foram usadas para darem uma aparência de legalidade ao certame que definiu o contrato emergencial entre o Governo do Paraná e a Oficina Providence Auto Center, de Cambé, no norte do Paraná.
O empresário Ismar Ieger aparece em documentos como o dono da Providece. Porém, para o Ministério Público, ele servia apenas de “laranja” no esquema, e que a empresa era de Luiz Abi Antoun, parente do governador Beto Richa (PSDB). Ieger e Antoun estão entre os sete réus nadenúncia apresentada pelo MP-PR e que foi aceita pela 3ª Vara Criminal de Londrina, no norte do Paraná na segunda-feira (30).
Para a promotoria, a Providence foi escolhida antes mesmo da apresentação das propostas para realizar o conserto de carros oficiais do Governo do Paraná. Por causa das investigações, o contrato, com valor de R$ 1,5 milhão, foi suspenso pela Justiça.
Conforme o MP-PR, nas três propostas apresentadas pela oficina, o critério para definir a empresa vencedora era os descontos em mão de obra, peças originais e peças de reposição. Segundo as investigações, os percentuais foram combinados para dar vantagem à Providence.
Os donos das oficinas usadas para forjar a proposta negam participação na disputa, e dizem que suas empresas foram usadas pelo esquema. “Nós estamos envolvidos nisso sem ter nada a ver com o negócio”, diz um dos empresários.

Ismar Ieger:
 “Lá, porcentagem, eu comecei com 12, 12 e 32, o que você acha?”Gravações mostram suposto acordo

Gravações telefônicas obtidas pelo MP-PR com autorização da Justiça mostram como funcionou o acordo para um suposto esquema de fraude em uma licitação do Deto. Em uma das conversas, Ieger acerta os descontos nas propostas com o ex-diretor do Deto, Ernani Delicato.
Ernani Delicato: “Fica bom”.
Os percentuais e os documentos, segundo as investigações, foram modificados advogado José Carlos Lucca, que assessorava o esquema.
O Ministério Público aponta que, sem a mudança feita pelo advogado, a fraude ficaria evidente, já que Ismar Ieger colocaria os mesmos percentuais nas outras duas propostas, com descontos de 11, 11 e 31%. A proposta vencedora teria 12, 12 e 32, indica o MP-PR.
Em outra conversa, o empresário Paulo Midauar, que teria intermediado o contato entre Ieger e o Deto para que a elaboração da licitação fraudulenta, confirma com Ernani Delicato que apenas a Providence e outras duas oficinas participariam da disputa.
Paulo Midauar: São três empresas só que vão participar ou tem mais?
Ernani Delicato: Não, só três.
Em outro trecho da gravação, Midauar cita o nome da secretária estadual de Administração e da da Previdência (Seap), Dinorah Nogara. A Seap é responsável pelo Deto e pela manutenção da frota do governo.
Paulo Midauar: Você acha que é necessário dá um pulo aí amanhã com ele [Ismar Ieger] para conversar com você pra tirar as dúvidas?
Ernani Delicato: Acho que dá pra, pra, pra conversar é por telefone.
Midauar: Aí eu poupo a viagem amanhã com ele, se não eu ia só pra, pra dar um abraço em você, na Dinorah e na família também né.
O Gaeco pediu autorização do Tribunal de Justiça do Paraná para investigar Dinorah Nogara por suposto favorecimento no esquema. A secretária nega irregularidades.
Em nota, a Seap diz que Paulo Midauar esteve na secretaria para marcar agenda com Dinorah Nogara, "com interesse de vender combustível para o Estado", mas não foi recebido pela secretária, "pois o Estado tinha contrato de compra de combustível com a Petrobras e a Ipiranga".
Além disso, na mesma nota, diz que Midauar, "provavelmente forçando uma aproximação", tentou marcar agenda para falar sobre a Faculdade de Agronomia Luiz Meneghel, de Bandeirantes, no norte do Paraná. A Seap afirma que o empresário não foi recebido, e que esse assunto é tratado pela secretária diretamente com o MP.
Também em nota, o Governo do Paraná afirma que possui apenas contrato emergencial com a Providence Auto Center para os serviços de manutenção de veículos para a frota do Estado.  O contrato foi assinado em dezembro de 2014, e encontra-se suspenso desde o dia 17 de março de 2015. Nenhum pagamento sobre os serviços foi efetuado, segundo o governo.
O governo diz também na nota que “esse e outros processos de licitação realizados pelo Departamento de Transporte Oficial do Estado do Paraná estão sendo auditados”, e que “as questões referentes às investigações do Ministério Público do Estado do Paraná estão sendo tratadas nesse âmbito”.
Por fim, o governo informa que a Seap e a secretária Dinorah Nogara não foram notificadas sobre partes ou o todo da investigação, e que as informações que chegam são via imprensa, “o que dificulta qualquer manifestação de forma pessoal no momento”.
O advogado de Ismar Ieger, Mauro Martins, diz não preferir comentar o caso, mas destaca que teria documentos que comprovam a inocência de Ieger.
O advogado de Paulo Midauar, Maurício Carneiro, nega que o cliente tenha feito qualquer intermediação entre os acusados. Carneiro diz ainda que o envolvimento de Midauar nesse caso é um equívoco, e que o cliente não cometeu nenhuma irregularidade.
Os advogados de Luís Abi Antoun e Ernani Delicato não quiseram comentar o caso. O advogado de José Carlos Lucca não foi localizado para falar sobre a denúncia.
Operação Voldemort
O MP-PR denunciou à Justiça sete pessoas pelos crimes formação de organização criminosa, falsidade ideológica e fraude à licitação, entre elas Ieger, Midauar, Antoun, Delicato e Lucca. A denúncia foi acatada pela Justiça na segunda-feira (30).
A denúncia faz parte da Operação Voldemort, que investiga há cinco meses um suposto esquema de fraude em licitações para prestação de serviços de manutenção aos veículos oficiais do Estado do Paraná na região de Londrina.
Ainda conforme a promotoria, o empresário Luiz Abi Antoun coordenou o grupo entre o início de 2013 e março de 2015. Na denúncia, o Gaeco relata que a Oficina Providence Auto Center, de Cambé, no norte do Paraná, contratada emergencialmente, foi constituída em nome de um “laranja” de Abi Antoun.
O MP-PR aponta que, ao fim do contrato emergencial, outra empresa venceu a licitação do Governo do Estado para prestar os serviços de manutenção nos automóveis. Para a promotoria, os suspeitos entraram em um acordo com os donos da firma contratada para que a mesma subcontratasse a Providence.
Isso foi feito, de acordo com o MP-PR, para permitir “a continuidade da atividade para a qual a oficina foi contratada emergencial e ilegalmente e, de consequência, a permanência do sistema de enriquecimento ilícito concebido pelo grupo”.
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