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Jovens contrariam queda da mortalidade no trânsito

Óbitos em acidentes de transporte diminuíram em geral no Paraná no primeiro semestre, mas aumentaram no público com idade entre 15 e 29 anos

 
Theo Marques
"Quando fecham a tampa do caixão, é como se o mundo acabasse", diz a auxiliar administrativa Rose Mari Carriel de Lima
Londrina - O terceiro domingo de novembro é o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Trânsito. Para a auxiliar administrativa Rose Mari Carriel de Lima, 49 anos, que perdeu o filho Róbson Eduardo em um acidente em Curitiba, no dia em que o jovem completou 21 anos de idade, foi "como se fosse outro Dia de Finados". "A gente revive tudo, desde o momento em que soubemos da morte até o enterro. Quando fecham a tampa do caixão, é como se o mundo acabasse", descreve. A tragédia aconteceu em 23 de dezembro de 2008.

Rose Mari conta que a impunidade aumenta a dor. Ela relata que Róbson pegou carona com um rapaz que estava alcoolizado. O motorista cometeu um erro e o carro sofreu uma queda de nível, matando Róbson e deixando outro passageiro paraplégico. A auxiliar administrativa afirma que o condutor tentou responsabilizar Róbson pelo acidente, mas por testemunhos provou-se que o jovem sequer sabia dirigir.

O motorista foi condenado a três anos de serviços comunitários, 11 meses sem dirigir e a pagar 10 salários mínimos para Rose Mari e o rapaz que ficou paraplégico, mas, de acordo com a auxiliar administrativa, nenhuma dessas punições foi cumprida. Segundo Rose Mari, um inquérito foi remetido para Brusque (SC), onde o motorista mora.

Ela entrou em depressão. Sua dor ganhou um alívio com a criação do Instituto Paz no Trânsito, fundado pelo casal Gilmar e Christiane Yared, pais de um dos dois rapazes mortos no acidente de trânsito provocado pelo então deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho, em 2009. O instituto presta apoio a famílias que tiveram integrantes vitimados em acidentes e faz campanhas de conscientização. Rose Mari trabalha no Paz no Trânsito desde o começo. "Nós fazemos reuniões a cada 15 dias. Uma mãe, quando perde um filho, entende a dor de outra mãe", explica.

Os acidentes de transporte mataram menos pessoas no Paraná no primeiro semestre de 2014 na comparação com o mesmo período no ano passado, mas o número de vítimas aumentou entre a população jovem.

De acordo com estatísticas recolhidas pela FOLHA no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), entre janeiro e junho 1.490 pessoas morreram em ocorrências do tipo no Estado. No primeiro semestre de 2013, haviam sido 1.515 óbitos. A redução foi de 1,65%. Por outro lado, entre a população com idade entre 15 e 29 anos, o contingente de vítimas fatais em acidentes de transporte passou de 471 para 482, alta de 2,34%.

Nas três maiores cidades do Paraná, ocorreram movimentos diferentes. Em Curitiba, o número de óbitos no primeiro semestre diminuiu tanto entre a população em geral quanto no público jovem. Em Londrina e Maringá, as mortes aumentaram nos dois casos (veja gráfico).

As mortes em acidentes de transporte no SIM dizem respeito a óbitos em ocorrências envolvendo veículos terrestres, aquaviários e aéreos. Tanto nos seis primeiros meses de 2014 quanto em 2013 os acidentes de transporte terrestres responderam por 99,6% das mortes registradas.

Segundo o estudo Mapa da Violência, divulgado este ano pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), a vitimização maior de jovens em acidentes de transporte é um fenômeno histórico nacional. Entre 1992 e 2012, a taxa de óbitos nessas ocorrências cresceu de 18,3 para 23,7 a cada 100 mil habitantes na população brasileira em geral, e passou de 21,1 para 29,4 entre pessoas de 15 a 29 anos de idade.

De acordo com o estudo, no Paraná a taxa aumentou de 31,3 para 44,6 a cada 100 mil habitantes jovens no período de 2002 a 2012, alta de 42,6%, enquanto no Brasil o crescimento no período foi de 28,3% (a taxa foi de 22,9 para 29,4 em 10 anos).



"Uma mãe, quando
perde um filho, entende
a dor de outra mãe"


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Fábio Galão
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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