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MAIS QUATRO ANOS - Beto nega 'loteamento de cargos' entre apoiadores

Reeleito no primeiro turno domingo passado, governador do Paraná promete enxugar a máquina e insistir em PPPs

Paulo Lisboa/26-08-2014
Governador do Paraná reeleito, Beto Richa (PSDB)
Reeleito com 55,67% dos votos válidos, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), atribui sua vitória ainda no primeiro turno a uma junção de fatores, que incluem o bom uso do tempo de televisão e um grande poder de articulação. O tucano enaltece o fato de ter visitado os 399 municípios do Estado ao longo dos últimos quatro anos, prática que culminou com o apoio massivo de prefeitos, parlamentares e lideranças regionais.

Após uma campanha marcada por alfinetadas de parte a parte, Beto superou os senadores Roberto Requião (PMDB), seu antecessor, e Gleisi Hoffmann (PT). Em entrevista por telefone à FOLHA, ele nega a possibilidade de lotear o governo entre as legendas aliadas, promete enxugar a máquina administrativa e adianta que fará mudanças mínimas no secretariado. Também conta que seguirá investindo no modelo de Parcerias Público-Privadas (PPPs), com a retomada, ainda no primeiro ano de mandato, do polêmico projeto "Tudo Aqui".

FOLHA - A sua coligação incluía 17 partidos, sem contar os que o apoiavam informalmente. Esse poder de articulação foi a sua principal vantagem em relação aos demais concorrentes?

Beto - É um conjunto de fatores: quem erra menos, quem tem poder de articulação, quem oferece as melhores propostas e quem, enfim, convence o eleitor. Houve o reconhecimento do resultado do nosso governo, porque se fosse pífio, ninguém votaria em mim. Tivemos também um bom tempo de televisão e soubemos usar esse tempo. E, além disso, o apoio dos prefeitos. Temos uma sólida parceria com todos, sem discriminação política. Sou o único governador que esteve nos 399 municípios.

Como o senhor pretende "abrigar" todos esses partidos no governo?

Não tive, com nenhum partido, qualquer tipo de acordo de retribuir com cargos. Eu não loteio o governo. Eu eliminei, um ano e meio atrás, mil cargos em comissão. E tive o reconhecimento do IBGE, que mostrou que o Paraná é o Estado com o menor número de cargos em comissão em relação ao total de servidores. A preocupação é escolher pessoas preparadas. Tenho consciência de que o sucesso da minha administração passa pelo bom desempenho dos secretários.

Que mudanças pretende fazer nas secretarias? O PMDB estará incluído nesta nova onfiguração?

Mudanças mínimas. Estou satisfeito com os resultados, embora eu queira sempre mais. Já eliminei três secretarias, ou três estruturas, melhor dizendo. A ideia é diminuir mais duas ou três. Temos algumas em vista, mas não quero antecipar. Mais do que nunca, é preciso austeridade: gastar menos com o governo e sobrar mais para as pessoas. O PMDB vai ser tratado como os demais partidos. Embora oficialmente não estivesse conosco, tivemos o apoio acho que da maior parte dos prefeitos e deputados.

O senhor registrou o seu plano de governo em cartório. Como a população poderá fazer o monitoramento das promessas?

É só requerer que está lá. Sou o único candidato que faz isso, e não é de agora. Em todas as minhas eleições majoritárias, os planos de governo foram registrados para que a população pudesse acompanhar a evolução de cada uma das metas.

Mas não existe, hoje, uma ferramenta que facilite esse monitoramento. Para acompanhar, será necessário ir até o cartório e solicitar o documento?

É. Pode ser. É uma ferramenta.

Nesses quatro anos, não houve transparência em relação às viagens feitas pelo governador. É um ponto que o senhor pretende resolver?

Todas as viagens foram publicadas. Estão no Portal da Transparência.

Mas destinos, compromissos, gastos e tripulação, por exemplo, não são informados. A oposição na Assembleia chegou a questionar.

Só voam comigo secretários e pessoas públicas. Todos os deslocamentos foram oficiais. Eu, no fim do ano, passei o Natal em Foz do Iguaçu e me desloquei em avião comercial. Legalmente até poderia ir no avião do governo, como estamos vendo a presidente da República fazendo campanha com o airbus do governo (federal). Mas sou muito cauteloso com questões éticas.

Segundo o Ministério Público Federal, não foi dada a publicidade devida à contrapartida do governo na negociação com as concessionárias de pedágio. Como o senhor irá agir neste novo mandato?

Esse é um problema de procuradores ali do MPF que estavam fazendo exigências desencontradas, tanto é que o juiz não acatou a denúncia. A gente às vezes esbarra com um ou outro apaixonado, até partidariamente. Mas o nosso governo foi o que abriu os contratos das concessionárias. Mostramos a quem quis ver.

As ações questionando os contratos vão continuar suspensas?

Não estão suspensas. Eu disse diversas vezes na campanha. Quando o Requião maldosamente insinuava isso, eu dizia que estão em tramitação. É só checar.

Os deputados estaduais voltaram a articular a polêmica aposentadoria parlamentar. Requião chegou a vetar projeto que tratava do assunto. Que posição o senhor assumirá se ele for retomado?

Eu duvido que seja aprovado. Já houve no passado, mas acredito que não há clima hoje.

Caso chegue as suas mãos, o senhor vai sancionar?

Não acredito que venha. E tem que ver de que forma se daria também. Se houver uma contribuição que justifique esse fundo de aposentadoria, vamos analisar. Mas, a princípio, se for oneroso para o poder público, penso em não sancioná-lo.

Seu plano de governo aposta no modelo de PPPs. Quantas devem ser firmadas até o fim do mandato?

A gente estuda cada uma delas, com muita transparência. As administrações hoje não têm mais recursos para investimentos em obras de infraestrutura de grande porte. Vamos adotar PPPs sim, mas discutindo, de forma democrática. Há uma possibilidade grande de uma na PR-280, cortando todo o sudoeste, outra na PR-092, que vem de Campina Grande do Sul até Santo Antônio da Platina, e depois uma até a divisa com São Paulo, em Ourinhos. E também uma PPP na centralização dos serviços públicos à população, aquele modelo que existe em São Paulo, o Poupa Tempo, que é um sucesso.

Que aqui seria o "Tudo Aqui"?

É. O programa público mais aprovado de São Paulo. Deu tão certo que existe hoje no Rio de Janeiro, na Bahia e em Minas. Não aconteceu aqui porque foi bombardeado pelo PT na Assembleia, com falsas acusações, e depois o Tribunal de Contas abriu um estudo, chegou a época da eleição e resolvi retirar, para reapresentá-lo no segundo mandato. Vai diminuir os gastos do governo, porque vamos centralizar num único espaço todos os serviços ofertados pelo município, pelo Estado, até pelo governo federal.

E deve voltar à pauta da Assembleia quando? Já no primeiro ano do novo mandato?

Acho que já no primeiro ano. Não tem por que esperar mais.

Sua declaração à FOLHA, sobre o veto ao orçamento da Defensoria Pública, gerou polêmica. Como analisa essa questão e como pretende tratar o órgão nesses próximos quatro anos?

Qual era o valor mesmo que eles solicitavam?


R$ 180 milhões.
Eu respondi que nós não temos um orçamento suíço, lamentavelmente. Gostaria de dar R$ 500 milhões para eles. Agora, R$ 180 milhões é brincadeira, com a situação que temos no País, no Estado. Se eu não me engano, eram R$ 20 milhões neste ano, não lembro de cabeça... R$ 47 milhões.

Saltar para R$ 180 milhões? Eu só posso achar que é brincadeira. Eu que criei a Defensoria – Paraná e Santa Catarina eram os dois únicos Estados que não tinham essa estrutura –, fui elogiado, por termos o melhor modelo do Brasil, inclusive com a iniciativa minha, democrática, de não nomear mais defensor público geral. Vai ser através de indicação da própria classe.

Qual a previsão para 2015?

Será um orçamento adequado para a realidade do Estado. Não sei ainda o valor.

O Superior Tribunal de Justiça aguarda há três anos que a Assembleia vote um pedido de licença para processá-lo, em uma ação aberta pelo MPF, correspondente ao período de novembro de 2006 a dezembro de 2008, quando o senhor era prefeito de Curitiba...

Vou te mostrar o processo e você vai dar risada. É uma barbaridade. Devolvi o dinheiro. Era uma solicitação de um recurso, não sei se do Ministério da Saúde, não lembro bem.

Do Fundo Nacional de Saúde, mediante um convênio de R$ 100 mil.

Era um recurso para a reforma de uma unidade de saúde. Nós devolvemos o dinheiro, não foi usado, porque resolvemos mudar a obra. Eu faço questão que seja julgado o quanto antes, para que não haja mais exploração negativa. Não devo nada.

Mas para ser julgado, é necessária essa aprovação da licença pela Assembleia.

Sem problema. A Assembleia... Não sei por que não votou ainda...

Houve alguma orientação para que o presidente Valdir Rossoni (PSDB) não colocasse na pauta?

Não. Não houve interferência.
Mariana Franco Ramos
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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