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Lixo toma conta de ribeirão entre Londrina e Ibiporã

Garrafas plásticas, galhos, capacete e até geladeira são encontrados no leito do Lindoia

Celso Pacheco
Até uma geladeira foi descartada no Ribeirão Lindoia
Ibiporã – O trecho do Ribeirão Lindoia que passa pela chácara da família do engenheiro civil Irineu Augusto de Melo é motivo de preocupação nos últimos dez anos. A propriedade rural fica próxima ao contorno norte de Ibiporã, na divisa com Londrina, e fica à margem do ribeirão.

Segundo Melo, o cenário no entorno foi alterado após a construção da rodovia. "A terraplanagem ao longo da pista deixou esse trecho mais assoreado. Quando chove inunda tudo na chácara. Já perdi parte de um muro, postes de iluminação e agora tem uma erosão com mais de dez metros de profundidade. Tudo o que chega fica acumulado na margem do ribeirão", explicou.

A chuva arrasta para o ribeirão galhos de árvores e lixo de todo tipo: garrafas plásticas, um capacete e até uma geladeira foram encontrados no local pela reportagem na quarta-feira. "Há muitos anos, fiscais do IAP [Instituto Ambiental do Paraná] estiveram na propriedade, mas até agora nada foi feito. Acho que faltou fazer a canalização da água de um jeito adequado direto para o rio", avaliou. Os dois lagos que eram utilizados no antigo pesque pague também ficaram assoreados ao longo do tempo.

A chácara costumava ser alugada para eventos, mas a degradação tornou a área perigosa para os convidados. "Com essas erosões, até a família deixou de frequentar. O terreno também desvalorizou muito e não damos conta de tirar todo o entulho que chega com a chuva", revelou.

O Lindoia nasce na zona oeste de Londrina, próximo ao Pool de Combustíveis, e cruza a cidade até Ibiporã. O ribeirão foi afetado na quarta-feira pelo vazamento de produtos químicos após um incêndio atingir uma empresa localizada em um parque industrial ibiporãense.

O IAP mantém o monitoramento da qualidade da água que passa por todas as bacias hidrográficas da cidade. A coordenadora dos trabalhos, Gelsy Wani Gonçalves, informou que o último relatório geral foi publicado em 2011. "De lá para cá, as análises se mantêm no mesmo nível de poluição", afirmou a bioquímica.

Conforme Gelsy, a coleta dos materiais é feita duas vezes por ano, mas os últimos resultados não foram divulgados. O chefe regional do IAP, Raimundo Maia Campos Júnior, afirmou que tentar autorização para divulgar esses últimos relatórios. "Mas nenhum rio da região está bom", afirmou. "Temos verificados esses lançamentos com frequência e há alguns de pequena intensidade que são tolerados, mas se constatarmos algo fora do comum, podemos aplicar uma multa."

Para o professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Edson Fontes de Oliveira, o acúmulo de resíduos sólidos no Ribeirão Lindoia representa apenas "a ponta do iceberg" em relação à contaminação no local. "Cada material levado com a chuva carrega também produtos químicos e uma série de outros resíduos que se dissolvem na água. A consequência disso é uma simplificação e o empobrecimento da fauna e da flora, já que resistem apenas as espécies muito tolerantes", ressaltou.

Oliveira é doutor em monitoramento de sistemas aquáticos e faz pesquisas com professores e alunos do mestrado em Engenharia Ambiental da UTFPR. O grupo monitora os ribeirões Cambé e Cafezal. As primeiras constatações apontam para o assoreamento e o acúmulo de resíduos na área urbana e a presença de produtos químicos utilizados na agricultura nos trechos de rios que passam pela zona rural. "Estamos em uma situação crítica. A educação ambiental precisa ser levada a sério. Há apenas iniciativas pontuais de monitoramento, mas sem a integração de todos os órgãos, escolas, municípios e ONGs não será possível evitar os impactos futuros", alertou.
Viviani Costa
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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